Evangelho (Mc 16,9-15) - Ressuscitado pela manhã, no primeiro dia depois do sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios. Isto foi para anunciá-lo aos que estiveram com ele e estavam de luto e chorando. Mas quando souberam que ele estava vivo e tinha sido visto por ela, não acreditaram. Depois disso, ele apareceu de uma forma diferente para dois deles, enquanto viajavam em direção ao campo. Eles também voltaram para anunciar aos outros; mas eles também não acreditaram neles. No final, apareceu também aos Onze, enquanto estavam à mesa, e repreendeu-os pela sua incredulidade e dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado. E ele lhes disse: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura”.
O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia
A Liturgia da Igreja anuncia-nos mais uma vez a aparição de Jesus ressuscitado a Madalena, segundo a narração do evangelista Marcos. Maria Madalena, que Jesus libertou de sete demônios, é também para o segundo evangelista o “primeiro” anunciador da ressurreição. Ela, “que muito amou”, e por isso muito foi perdoada, recebe o privilégio de ser a primeira discípula do Ressuscitado, a primeira a quem é confiada a tarefa de anunciar a ressurreição. Os apóstolos, mostrando mais uma vez a sua estreiteza de espírito, não acreditam nela; ainda são escravos da mentalidade deste mundo e sobretudo do seu esquecimento. Não basta estar “de luto e choro” para amar Jesus, ou seja, não bastam os nossos sentimentos pessoais, os nossos pensamentos, as nossas considerações, não importa se são boas ou não, o que conta no caminho do A fé cristã é ouvir o outro. A humildade, que é porta de acesso à fé, exige escuta, ou seja, estar atento a algo que não é nosso, que vem de outro. Aqui está a voz de uma mulher que viu o Senhor ressuscitado. Desde o primeiro momento da ressurreição, Jesus usa a fraqueza desta mulher para confundir a presunção – até um pessimismo dolorido pode ser presunçoso – dos discípulos. A tradição bizantina com grande sabedoria espiritual chama Maria Madalena de “a apóstola dos apóstolos”. O evangelista retoma então, ainda que em poucas linhas, o encontro de Jesus com os dois discípulos de Emaús (narrado com muito mais detalhes por Lucas) e reitera que ainda não tinha aparecido aos apóstolos, isto é, àqueles a quem ele havia colocado à frente de sua Igreja. E mais uma vez os apóstolos não querem acreditar nos dois discípulos que contam o que lhes aconteceu. O evangelista parece querer sublinhar a dificuldade de acreditar na ressurreição desde o início da Igreja, desde o primeiro dia e por parte dos apóstolos, daqueles sobre os quais a Igreja deve ser fundada. Mas as dificuldades e a descrença que os apóstolos têm em acreditar na ressurreição não podem abrandar a sua pressa em anunciar a todos a vitória de Jesus sobre a morte. Aqui estão uma mulher e dois discípulos anônimos que, sem hesitar, vão imediatamente comunicar o que viram e ouviram. Esta passagem evangélica sugere-nos que a cada discípulo – para além do ministério e do serviço que desempenha – é confiada a séria e estimulante tarefa de comunicar a ressurreição de Jesus, a sua vitória sobre o mal e a morte. É por isso que os primeiros anunciadores da ressurreição não foram os apóstolos, mas, de facto, uma mulher e dois discípulos anónimos. É tarefa de cada crente comunicar o Evangelho da Páscoa a todos. Naturalmente, a conclusão da narrativa abre o olhar sobre toda a Igreja - os Onze que Jesus repreende pela sua incredulidade, e também os outros discípulos - enviados para comunicar o Evangelho da Páscoa até aos confins do mundo, para que cada criatura seja envolvida pela sua força libertadora.