Quarta-feira de Cinzas
M Mons. Vincenzo Paglia
00:00
00:00

Evangelho (Mt 6,1-6.16-18) - Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Tenham cuidado de não praticar a sua justiça diante dos homens para serem admirados por eles, caso contrário não haverá recompensa para vocês da parte de seu Pai que está nos céus. Portanto, quando você der esmola, não toque a trombeta na sua frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelo povo. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Pelo contrário, enquanto deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E quando orares, não sejas como os hipócritas que, nas sinagogas e nos cantos das praças, gostam de rezar em pé, para serem vistos pelas pessoas. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Em vez disso, quando você orar, entre no seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que está em segredo; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E quando vocês jejuarem, não fiquem melancólicos como os hipócritas, que ficam abatidos para mostrar aos outros que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Em vez disso, quando você jejuar, perfume a cabeça e lave ali o rosto, para que as pessoas não vejam que você está jejuando, mas apenas o seu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.

O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia

A Quaresma começa hoje para nos prepararmos para a Páscoa. A Liturgia da Igreja relata o caloroso convite de Deus: “Volta para mim de todo o coração, com jejum, com choro e lamento” (2,12). Preocupado com a insensibilidade do povo de Israel, o profeta Joel acrescenta: «Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, voltai para o Senhor vosso Deus, porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se, de grande amor, pronto a arrepender-se para mal" (Joel 2:13). A Quaresma é o momento certo para voltar a Deus e re-compreender o próprio sentido da vida. A liturgia chega até nós com o antigo e austero sinal das cinzas. Enquanto um pequeno punhado de cinzas é colocado sobre nossas cabeças, o sacerdote nos diz: “Lembre-se de que você é pó e ao pó voltará”.
É a verdade sobre as nossas vidas: somos verdadeiramente pó, fracos e frágeis. Subimos facilmente. E esquecemos que somos coitados. Quem se levanta e se sente forte logo se vê fraco. A cinza em nossas cabeças nos lembra de nossa fraqueza. Mas não aumente seu medo ou tristeza. Pelo contrário, para nos dizer que esta fraqueza que somos é amada por Deus, é escolhida por Deus para realizar o seu plano de amor e de paz para o mundo inteiro.
Nós, cristãos, somos chamados a ser sentinelas da paz nos lugares onde vivemos e trabalhamos. Somos convidados a estar vigilantes para que as consciências não cedam à tentação do egoísmo, da mentira, da violência e do conflito. O jejum e a oração fazem de nós sentinelas atentas e vigilantes para que não prevaleça o sono da resignação que faz com que os conflitos pareçam inevitáveis; para que não prevaleça o sono da aquiescência ao mal que continua a oprimir o mundo; para que o sono do realismo preguiçoso que faz com que alguém se retraia em si mesmo e nos próprios interesses seja derrotado pela raiz. No Evangelho que ouvimos, o próprio Jesus exorta os discípulos a jejuarem e a rezarem para abandonarem todo o orgulho e arrogância e se prepararem para receber os dons de Deus. A nossa força por si só não é suficiente para afastar o mal; precisamos invocar a ajuda do Senhor. Ele - como Bonhoeffer gostava de dizer - nos torna não apenas bons, mas também fortes, para que o amor vença o ódio e a paz que eles próprios não conseguem dar.