Multiplicação dos pães
M Mons. Vincenzo Paglia
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Evangelho (Jo 6,1-15) - Naquele tempo, Jesus atravessou para a outra margem do mar da Galileia, isto é, Tiberíades, e uma grande multidão o seguiu, porque via os sinais que ele realizava nos enfermos. Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com seus discípulos. A Páscoa, a festa judaica, estava próxima. Então Jesus ergueu os olhos e viu que uma grande multidão se aproximava dele e disse a Filipe: “Onde podemos comprar pão para que esta gente possa comer?”. Ele disse isso para testá-lo; na verdade, ele sabia o que estava prestes a fazer. Filipe respondeu-lhe: “Duzentos denários de pão não bastam nem para que todos recebam um pedaço”. Então um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: «Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas o que é isso para tanta gente?”. Jesus respondeu: “Faça-os sentar”. Havia muita grama naquele lugar. Então eles se sentaram e havia cerca de cinco mil homens. Então Jesus pegou os pães e, depois de dar graças, deu-os aos que estavam sentados, e fez o mesmo com os peixes, à vontade deles. E quando eles ficaram satisfeitos, ele disse aos seus discípulos: “Reúnam os pedaços que sobraram, para que nada se perca”. Eles os recolheram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram dos que haviam comido. Então o povo, vendo o sinal que ele havia realizado, disse: “Este é verdadeiramente o profeta, aquele que vem ao mundo!”. Mas Jesus, sabendo que vinham prendê-lo para fazê-lo rei, retirou-se novamente para o monte, só ele.

O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia

A passagem evangélica relata o milagre da multiplicação dos pães segundo o Evangelho de João. O evangelista nota a grande multidão que segue Jesus por causa dos “sinais” que ele realizava nos enfermos. Aquelas multidões sentiam que Jesus era um homem bom e forte, que ajudava e curava aqueles que haviam perdido a saúde e a esperança. Jesus, por sua vez, tinha consciência desta sede de amor que brotava das pessoas. O evangelista escreve, como que para sublinhar a sua atitude de misericórdia, que Jesus “ergue os olhos” e vê a multidão que se aproxima dele. Não é como nós, que geralmente mantemos os olhos apenas em nós mesmos e nos nossos assuntos. Jesus pede-nos que levantemos o olhar, juntamente com ele, da concentração que temos em nós mesmos para podermos perceber quem sofre e quem precisa de ajuda. Não são os discípulos que percebem a necessidade de comer que essas multidões têm. É Jesus quem percebe isso e pergunta a Filipe onde comprar o pão para alimentar toda aquela gente. O apóstolo Filipe não pode deixar de notar a impossibilidade de encontrar pão para tantas pessoas. Foi a observação mais óbvia, mas também a mais resignada. Andréa, presente na conversa, se adianta e diz que só há cinco pães de cevada e dois peixes. Praticamente, nada. Para eles, portanto, a discussão está encerrada. Mas ainda não tinham compreendido que “o que é impossível aos homens é possível a Deus”. Também nós deveríamos recordar frequentemente estas palavras, em vez de nos resignarmos calmamente diante das dificuldades. Mas Jesus, que se deixa guiar pelo seu amor apaixonado pelas pessoas, não desiste. Ordene-lhes que acomodem aquela multidão. E abre-se o cenário de um grande banquete onde todos se saciam de graça. O evangelista recorda a celebração da Eucaristia no gesto e nas palavras de Jesus. Aqueles pães colocados nas mãos de Jesus, o Compassivo, bastam para todos. Ao contrário da narrativa dos Evangelhos Sinópticos, aqui o evangelista faz Jesus agir sozinho; é ele quem pega os pães, os multiplica e os distribui. É como querer sublinhar que existe uma relação direta entre o pastor e as ovelhas. As palavras do Papa Francisco aos sacerdotes são lindas, mas todos podemos acolhê-las: “É preciso sair... para os subúrbios onde há sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que deseja ver, há prisioneiros de muitos maus mestres... Quem não sai do seu caminho, em vez de ser mediador, torna-se gradualmente um intermediário, um gestor. Peço-vos: sejam pastores com cheiro de ovelha." Devemos ir para as periferias, para aqueles que esperam o amor, a justiça e a paz. Colocamos nossos poucos pães nas mãos de Jesus e o milagre acontece. As mãos de Jesus – é Ele quem multiplica e distribui – não guardam nada para si mesmas, estão habituadas a abrir-se, a ser generosas. Ele multiplica nossa fraqueza. O milagre continua se nós, como aquele menino, deixarmos a estreiteza de espírito dos discípulos e colocarmos nas mãos do Senhor os pobres pães de cevada que possuímos. A multidão queria proclamá-lo rei. Mas ele fugiu para a montanha, sozinho. Jesus não quer menosprezar a urgência do pão, pelo menos sublinha a necessidade de nos alimentarmos do pão eterno: a amizade com ele. Oração da Santa Cruz