XXIII do tempo comum
M Mons. Vincenzo Paglia
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Evangelho (Mc 7,31-37) - Naquele tempo, Jesus, tendo saído da região de Tiro, passando por Sidom, dirigiu-se ao mar da Galileia em pleno território da Decápolis. Trouxeram-lhe um surdo-mudo e imploraram-lhe que lhe impusesse a mão. Ele o chamou de lado, longe da multidão, colocou os dedos nos ouvidos e tocou sua língua com saliva; depois, olhando para o céu, soltou um suspiro e disse-lhe: "Effata", ou seja: "Abre!". E imediatamente seus ouvidos se abriram, o nó de sua língua foi desatado e ele falou corretamente. E ele lhes ordenou que não contassem a ninguém. Mas quanto mais ele proibia, mais eles o proclamavam e, cheios de espanto, diziam: “Ele fez tudo bem: faz os surdos ouvirem e os mudos falarem!”.

O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia

O trecho evangélico fala-nos da cura de um homem surdo e mudo, que Jesus realizou na região de Decápolis, terra pagã. Marcos sugere assim que todos têm o direito de ouvir o Evangelho e de encontrar a misericórdia de Deus. Jesus acolhe aquele surdo-mudo e leva-o à parte, longe da multidão. Depois levanta os olhos para o céu e diz ao surdo-mudo: «Effatà!», isto é, «Abre!». É uma palavra. Basta uma palavra do Evangelho para mudar o homem, para transformar a vida. Jesus, poderíamos dizer, não se dirige aos ouvidos e à boca, mas à pessoa inteira. É ao surdo-mudo, e não ao seu ouvido, que ele diz: “Abre!”. E é o homem inteiro que cura, “abrindo-se” a Deus e ao mundo. A estreita ligação entre surdez e mutismo é bem conhecida. A cura requer que ambos os órgãos sejam curados. Poderíamos dizer que isto também é verdade no campo da fé cristã. Antes de mais nada é necessário que o ouvido (homem) se “abra” para ouvir a Palavra de Deus, depois a língua se solta para falar. A ligação entre a escuta da palavra e a capacidade de comunicar é estreita. Quem não escuta permanece em silêncio, mesmo na fé. Este milagre faz-nos refletir sobre a ligação entre as nossas palavras e a Palavra de Deus. Muitas vezes não prestamos a devida atenção ao peso que as nossas palavras têm. No entanto, é através das palavras que nos expressamos muito mais do que pensamos. Portanto, é necessário antes de tudo ouvir a “Palavra” de Deus para que ela purifique e fecunda as nossas “palavras”, a nossa linguagem, a nossa própria maneira de nos expressarmos.