O envio dos setenta e dois
M Mons. Vincenzo Paglia
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Evangelho (Lc 10,1-9) - Naquela época, o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois na frente dele em cada cidade e lugar para onde ele estava prestes a ir. Ele lhes disse: «A colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos! Portanto, ore ao Senhor da colheita para que envie trabalhadores para a sua colheita! Ide: eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos; não carregue bolsa, sacola ou sandálias e não pare para cumprimentar ninguém pelo caminho. »Em qualquer casa em que você entrar, diga primeiro: “A paz esteja nesta casa!”. Se houver um filho da paz, a sua paz virá sobre ele, caso contrário, ela retornará para você. Fiquem naquela casa, comendo e bebendo o que têm, porque quem trabalha tem direito à sua recompensa. Não vá de uma casa para outra. Quando você entrar numa cidade e for recebido, coma o que lhe for oferecido, cure os enfermos que ali estiverem e diga-lhes: ‘O reino de Deus está perto de vocês’”.

O comentário ao Evangelho de Monsenhor Vincenzo Paglia

Hoje a Igreja recorda Lucas, autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos. Diz a tradição que ele estava entre os setenta e dois. Com efeito, a sua figura e o seu Evangelho caracterizam-se por um grande impulso missionário. Lucas estará entre os companheiros e colaboradores de Paulo nas suas viagens missionárias, e começará imediatamente a recolher os testemunhos dos discípulos que viveram com Jesus, redigindo cuidadosamente estas memórias no Evangelho que leva o seu nome e nos Atos dos Apóstolos. Nesta passagem encontramos então todo o olhar confiante de Jesus para o mundo: uma colheita madura que o Senhor deseja que seja feita, para que nada da vida dos homens se perca. A visão de Jesus não é o olhar ingénuo de quem não conhece o mal, mas a visão clara e corajosa de quem conhece a força do amor e sabe que no coração de cada um e no coração do mundo existe uma abundância está escondido o fruto da vida que pode amadurecer. O primeiro mandato do Senhor é orar. E a oração é também uma disponibilidade para nos envolvermos na obra de Deus, nós que fomos colhidos como um fruto das mãos do Senhor que nos escolheu e nos chamou. Jesus diz: vai! Assim como Jesus, os discípulos também caminham com um propósito e uma meta precisos. Não são vagabundos, mas enviados que se movem livremente, sem fardos, pesadas bagagens de coisas e ideias, preconceitos: “Não vão de casa em casa e não cumprimentem ninguém pelo caminho”. Discípulos como Jesus vão a todos os lugares; eles não escolhem o local com base em critérios de utilidade. Vão e aproximam-se de quem encontram com simplicidade e bondade, oferecendo o anúncio do Evangelho, testemunhando-o com as suas obras, lutando contra o mal, oferecendo a todos o remédio do amor. «Eis que vos envio como cordeiros entre lobos». Os discípulos do Senhor não podem aceitar a lógica do mundo, a lógica da força, da violência, que pertence mais ao lobo do que ao cordeiro. Cada discípulo é chamado a ser como um cordeiro para demonstrar o poder do amor que salva e liberta de todo mal. E sentimos como num mundo marcado por tanta violência, onde os homens são tentados por uma lógica de poder e de oposição, pelo hábito de responder ao mal com o mal, há necessidade deste Evangelho que transforma o coração dos lobos em cordeiros. Justamente quando a luz do Reino parece mais distante, a oração, a esperança e o amor dos discípulos tornam-na próxima e presente.